A brasilidade e a arte indígena estão tomando conta da Bienal de Veneza. Os artistas indígenas têm presença emblemática e o seu trabalho saúda o público no Pavilhão Central, onde o coletivo Mahku@mahkumovimento do Brasil (os Huni Kuin do Acre) pintou um mural monumental na fachada do edifício, de personagens da sua cultura, animais e de cenas cotidianas. No centro, a figura de um jacaré que para eles significa uma ponte entre o passado e o presente.

Pavilhão Central pintado pelo coletivo Mahku (indios brasileiros do Acre)

A 60ª Exposição Internacional de Arte, intitulada Stranieri Ovunque – Foreigners Everywhere, foi  aberta ao público no dia 20 de abril  e vai até 24 de novembro no Giardini e no Arsenale. A curadoria é do brasileiro Adriano Pedrosa (atualmente diretor artístico do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand – MASP) e a organização é da La Biennale di Venezia.

Nos Jardins Públicos de Veneza estão os pavilhões de vários países. Bem localizado, o pavilhão brasileiro, presente desde 1964, trouxe a artista Glicéria Tupinambá, grupo étnico do sul da Bahia no comando das instalações.

“Kapuera, somos os pássaros que andam” é o nome da obra que reúne, em uma das quatro salas, dois mantos de penas de vários pássaros que representam a ancestralidade dos povos indígenas. A aldeia Tupinambá não possuía mais nenhum manto, todos tinham sido levados para a Europa. Glicéria aprendeu a reproduzi-los com a ajuda dos mais velhos e, também, dos espíritos, segundo ela. Agora esses dois mantos já podem ser cultuados.

Junto com Glicéria, os artistas Olinda Tupinambá e Ziel Karapotó mostram trabalhos que falam da violência contra as tribos indígenas, da colonização e das ameaças ao meio ambiente. Além das necessidades deles que se resumem à terra, aos tubérculos e à semente de urucum.

A artista brasileira Beatriz Milhazes @beatrizmilhazes conhecida por sua obra que sobrepõe o imaginário cultural brasileiro com referências à pintura modernista ocidental, apresenta sete pinturas e sete colagens, todas obras de grande porte. O projeto do Pavilhão, com curadoria este ano de Adriano Pedrosa e já na sua oitava edição, é uma colaboração entre a La Biennale di Venezia e o Victoria and Albert Museum (V&A) de Londres.

A artista Anna Maria Maiolino recebendo “Os Leões de Ouro”

Os Leões de Ouro pelo conjunto de sua obra foram concedidos à artista brasileira nascida na Itália, Anna Maria Maiolino, e ao artista turco radicado em Paris, Nil Yalter, durante a cerimônia de premiação e inauguração da Biennale Arte 2024 , que foi realizada no sábado , 20 de abril de 2024, em Ca’ Giustinian, sede da Bienal de Veneza.

Desde 2021, a Bienal de Veneza lançou um plano para reconsiderar todas as suas atividades à luz de princípios reconhecidos e consolidados de sustentabilidade ambiental. E o objetivo para esse ano foi ampliar a conquista da certificação de “neutralidade de carbono” , obtida em 2023 para as atividades programadas da La Biennale: o 80º Festival Internacional de Cinema de Veneza, os Festivais de Teatro, Música e Dança e, em particular, o 18ª Exposição Internacional de Arquitetura que foi a primeira grande exposição nesta disciplina a testar no terreno um processo tangível para alcançar a neutralidade carbônica – ao mesmo tempo que reflete sobre os temas da descolonização e da descarbonização.

Essa é uma Bienal de Veneza diferente, inclusiva, de 331 artistas, muitos deles marginalizados, outsiders, homossexuais, indígenas. Ou simplesmente que nunca tinham participado de uma mostra internacional.

Vale ressaltar que o brasileiro Adriano Pedrosa é o primeiro curador geral latino-americano na Bienal de Veneza. Adriano é atualmente diretor artístico do MASP, onde foi curador de diversas exposições, incluindo Histórias da Dança (2020) e Histórias Brasileiras (2022). Recentemente, ele recebeu o Prêmio Audrey Irmas de Excelência Curatorial em 2023, que lhe foi concedido pelo Center for Curatorial Studies do Bard College, Nova York.

A Bienal de Veneza também incluí 88 participações de países nos pavilhões históricos do Giardini, do Arsenale e do centro da cidade de Veneza. 4 países participarão pela primeira vez na Bienal Arte: República do Benin, Etiópia, República Unida da Tanzânia e República Democrática de Timor Leste. Já a Nicarágua, República do Panamá e Senegal participam pela primeira vez com pavilhão próprio.

O Pavilhão Italiano do Tese delle Vergini no Arsenale, patrocinado e promovido pela Direção-Geral de Criatividade Contemporânea do Ministério da Cultura, tem curadoria de Luca Cerizza. O projeto Due qui / To listen   do artista Massimo Bartolini inclui contribuições criadas especificamente por músicos e escritores.

O Pavilhão da Santa Sé, promovido pelo Prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação da Santa Sé, Cardeal José Tolentino de Mendonça, acontece esse ano  na prisão feminina de Veneza, na ilha de Giudecca. A exposição, intitulada “Com meus olhos”, tem curadoria de Chiara Parisi e Bruno Racine.

Vale destacar que a Cidade de Veneza participa com pavilhão próprio, o Pavilhão de Veneza, no Giardini de Sant’Elena.

Dez obras da artista italiana Nedda Guidi (Gubbio, 1927 – Roma, 2015), em competição na Exposição Internacional de Arte, estarão expostas no Forte Marghera, no interior do edifício conhecido como Arsenal Austríaco.

Os projetos selecionados para a 2ª edição da Biennale College Arte 2023/24 são de Agnes Questionmark, Joyce Joumaa , Sandra Poulson  e Nazira Karimi . Os 4 artistas receberão uma bolsa de 25.000 euros para a realização do trabalho final. As obras serão apresentadas, fora de competição, no âmbito da 60ª Exposição Internacional de Arte. Mais de 150 jovens artistas emergentes com menos de 30 anos, de 37 países de todo o mundo, aderiram ao apelo à participação.

A @labiennale é há 130 anos uma das instituições culturais mais prestigiadas do mundo. Fundada em 1895, a La Biennale contou com a participação de mais de 800.000 visitantes na Exposição de Arte de 2022. A história da La Biennale di Venezia remonta a 1895, quando foi organizada a primeira Exposição Internacional de Arte. Na década de 1930 nasceram novos festivais: Música, Cinema e Teatro (o Festival de Cinema de Veneza de 1932 foi o primeiro festival de cinema da história). Em 1980 teve lugar a primeira Exposição Internacional de Arquitetura e em 1999 a Dança estreou na Bienal.

A história da Bienal de Veneza está documentada no Arquivo Histórico localizado em Marghera Veneza e na Biblioteca do Pavilhão Central do Giardini. As Exposições Internacionais de Arte e Arquitetura tiveram uma nova estrutura desde 1998. Nos últimos anos, La Biennale promoveu novas atividades educativas, programas de formação (Biennale College), conferências e painéis na sua sede em Ca’ Giustinian.

Autor

mauricioavila@magazinelifestyle.co

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